Quando Mariana cumpriu dezoito vieram para a cidade. Ela tinha quinze. Deixara os amigos, a casa, a avó e um amor escondido às claras.
Luís também era loiro, de pele sardenta e olho verde. Ela lhe escrevera um bilhete com um poema, um português era o autor, alguém lhe dissera que seus olhos eram como peixes verdes. Os de Luís também. Ela não se cansava de virar aquário. Era um amor de verdade aquele. Entre duas crianças que descobrem um corpo adulto. Duas crianças recordando, ou inventando talvez, o amor que suas mães não lhes puderam dar.
Não faziam nada de extraordinário. Iam no cinema e apertavam as mãos, na lanchonete e juntavam os pés encaixados para não perderem o chão. Se visitavam no intervalo da escola, trocavam de merenda às vezes. Algumas tardes de chuva abrigavam-se no casebre do avô de Luís. Aí, húmidos de calor, os corpos se demoravam em descobertas. Tudo era novo e tinha promessa de antigo. Ana Maria sabia que algum dia recordariam seus corpos assim. O dia em que eles fossem já dobras e vincos, eles saberiam ler no corpo do outro a marca, um filho, outro filho, um escaldão de sol ou de panela, um acidente de trabalho ou de carro, as perdas e as conquistas em sobras que se somavam e se subtraiam.
Eram o que sentiam que fazia toda a diferença.