Chegara finalmente para identificar o corpo. Sobrinha eleita. A que vivia mais perto, e a tia privilegiava essas practicidades.
O médico destapou a tia, juraria que nos filmes era uma bolsa plástica rígida, aqui um atoalhado branco. Assim que viu a testa assentiu, o bico de viuva, o sinal sobre a sobrancelha, era ela. Era a tia Luísa.
Assine então no final depois de ler o documento, estendeu a caneta azul guardada na bata. Pediu que a esperara.
Abriu a bolsa repleta de kleenex, uma carteira enorme, o bilhete único solto sobre as lágrimas. Dê-me um segundo…Pegou um estojo, infantil, desses de loja chinesa e catou uma caneta rosada. O médico viajou quando viu a Betty Boop. Há anos que não se encontrava com essa bonequinha dançante.
Destapou a tampa. O bico da caneta deslizou sobre a folha, palavra por palavra. Sublinhou o nome da tia e a idade.
Ele ali, de caneta estendida, a tia vestida de mesa pic-nic e ela com a caneta viajando até ao fim da página.
Está certo!
Aceitou a caneta que o médico petrificado lhe estendia e assinou.
(Exercício da escrevedeira, manias estranhas em momentos insólitos)