Sofia II

Deixara o pé abandonado na borda da piscina, enquanto estava e não estava conosco. Foi então que eu tive a pior ideia de sempre. Péssima ideia, e digo péssima com toda a seriedade. Emprestei-lhe o meu creme de mãos. Ponha no pé porque vai arder, ponha no pé porque vai doer muito se você não hidratar.

O menino nunca tinha posto creme no pé, ficou quieto, corado, com cara de quem fala outro idioma e pergunta pelo nome da fruta. Apenada, vi os outros fazendo troça. Vem cá, eu disse, deixa que eu ponho.Coloquei o creme no pé dele.Duas nozinhas que cheiravam a coco e depois esfreguei. Sentia-me uma enfermeira da segunda guerra mundial, sabe, assim altruísta, salvando uma criança de uma queimadura de segundo grau, um velhinho de uma desidratação, sei lá, me via de gorro da cruz vermelha e olhar embaciado de emoção. Minhas fantasias de menina que não são nada, veja, não são nada, comparadas ao que aconteceu depois.

O menino ficou louco comigo. Ele dez, eu catorze. O menino, bom, eu achava que era menino, parece que deixou de ser menino ali mesmo.Virou um pouco homem, um pouco louco, um pouco gato. Olhe só, seguia-me a todas as partes, pedia-me para ir comigo para a escola, pedia que o esperasse para subir no ônibus, para sentar do meu lado na festa de natal do edifício.

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