Os areais macios, repletos de bandeiras vermelhas, azuis, verdes, amarelas, de postos de vigia, motos, jovens bronzeados.
Uma paz!
Quem chega, estende a toalha, reflecte brevemente sobre as tonalidades de azul, pega no livro que a mãe ofereceu no natal anterior e dispõe-se a descansar. As ondas, os gritos das mães, as risadas, os ricochetes de toalhas cheias de areia fina. Tudo aquilo nos embala, me embala, me embalava. Me adormecia. Quando começou algo inexplicável:
Uma onda sobre a areia, um grito grave, duro, arrancado ao céu da boca, seguido de duas sequências de palmas.
Um só homem gritava e a praia inteira aplaudia, certeira, uma palma, outra palma, um grito longo.
Ninguém se levantou, ninguém ligou para as urgências, os bombeiros, salva vidas, ninguém sequer levantou o olhar.
As cartas dispunham-se sobre as toalhas, os pêssegos escorriam sobre os beiços e tudo parava de novo para aplaudir, tap, tap, o grito, tap, tap, o grito! E o grito como avalanche, percorria a praia, de ponta a ponta, e regressava.
Como uma onda no estádio, sabe? Como num concerto. Mas absolutamente despido de urgência, de emoção, de afecto.
Tudo aquilo me assustou Frederika, me assustou como uma morte, minha, eminente. Um ajuste de contas por um crime que desconhecia, uma dívida que sangrava, uma boca pontiaguda no fim de um jejum.
Não volto Frederika.
Lá, não volto nunca mais.