Não sei quanto tempo permaneci assim. Um tempo suficiente para perceber que tudo como era antes já não seria mais. Eu já não seria mais. Incendiei-me inteira e comecei a rasgar o que encontrava, saia, saiote, decote, folho e renda. E mais ardia de não conseguir rasgar tanto quanto queria. E ardiam as mãos e os lábios e os dentes, e mais ardiam de não conseguirem rasgar tudo.
E foi aí que vi. Dois pares de olhos. E eu, Susane Wells, desgrenhada, vermelha e semi-nua. Tapei-me com o chapéu.
Quero a minha mãe! Gritei. Quero a minha mãe! -Nada de ser a Susane e tudo isso, nada de acenar e dizer algo coerente.Ficou tudo turvo e eles desapareceram por momentos. Fui recuperando o ar, e a dor do espartilho e secando os olhos na seda molhada. Os dois quietos, esperando. Um dos homens resistira bastante ao sol, tinha o cabelo liso, penteado e vestia apenas umas calças bem acima do seu número. O outro tinha a pele vermelha, como a que lera nos livros que tinham os índios e os canibais e os violadores de damas inocentes. Mas tinha também olhos azuis, com essa sobriedade inglesa e por momentos imaginei que pudesse fazer-me um chá, e senti sede, uma sede que era só sede da língua toda mergulhar no amargo de um aroma.