Dia de chuva

Era daqueles amores a meias. E pedia meias. Cada tanto o mindinho adormecia, se o sacudissem, podia cair. Uma parte do corpo era de gelo, se o gelo ficasse ali, fazia peso e o corpo não queria responsabilidades. Trocavam-se meias, com sorte. Sem sorte haviam as casas de banho, ecológicas em sopros frios, desafiavam a eternidade. Era melhor que nada. O cabelo nas toalhas, algodão ou papel reciclado. A maquiagem borrada. Eram dias tristes. Hoje está mesmo um dia triste. E as cabeças pingavam, o rímel escorria, as pernas abertas fugindo das calças, o chão sujo. Mas faz falta. Faz, faz. Graças a Deus. Estávamos mesmo a precisar. Silêncio. Mas é chato. Pois é, pois é. O trânsito. Sem possibilidades de espreitar, asas afiadas cortando as gotas, luzes de presença, os olhos enrugados e aquela vontade de ouriço cacheiro. Contacto visual, ao menos! Para bufar. O bufo é som que se escuta sem ouvido. Buff, hã, pah. Qualquer um lê nos lábios. Ahhh. Também é fácil de ler.

O único dia em que o melhor do mundo é ser dona de casa. Desde que se tenha máquina de secar. Ou ser muito organizada, ou o, que hoje entre bufos e ahs temos donos de casa. O nome na escritura coincide com quem põe a máquina a lavar. Eles e elas. Alguns. Outros bufam.

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