Noemi pediu para escrevermos: alguém, sem usar nomes, espera um uber. Linguagem simples e quotidiana. Aqui vai:
Três toques, bem longe. Pode falar. Oi, tou à sua espera, demora muito? Ele tosse. Tou no semáforo. Não gostou da pergunta. Qual semáforo? Tá ficando verde, vou avançar agora. Certo, mas qual semáforo? Já estou quase, não cancele a corrida que eu chego já. Ok. Desligo. Ele tá longe, o semáforo mais próximo é o da rotunda. Talvez ele esteja nesse. Talvez estivesse no aeroporto esperando um passageiro melhor. No mini-preço, do outro lado da rua, uma velhota abraça uma garrafa de cândida, tem uma carteira dessas que faz barulho de molhos de chaves e moedas. O aplicativo diz que está a quatro minutos. A quatro minutos não há semáforos, é a circular. Ligo de novo. Já caiu o verde? Como? Do semáforo? Ah é, tive que parar para pôr gasolina. Você desculpe, mas estou a atrasar-me, vou cancelar corrida. Não, não, já tou entrando no carro de novo. Em que gasolineira você está?Tou pertinho, bem pertinho. Você estava no aeroporto? Não, não. A cândida da velhota caiu no chão. Molhou os pés, a saia, as mãos e a carteira que tilinta. Ela ficou quieta. Não sabe que fazer. Você sabe o que fazer? Para chegar?o wase diz. Então eu espero.