, o caramba, o pô, pôxa, carambelis, caraças, caracinhas, cumcatano, porra, bolas, pppppppfffpppp….
o Joca diz:
Pombas!
É isso, direi:
Pombas!
e esse será um momento Adília,
POMBAS, esse será um momento Adília.
Literatura,contos, ideias
, o caramba, o pô, pôxa, carambelis, caraças, caracinhas, cumcatano, porra, bolas, pppppppfffpppp….
o Joca diz:
Pombas!
É isso, direi:
Pombas!
e esse será um momento Adília,
POMBAS, esse será um momento Adília.
O sal. Pouco. Torrado apenas, o caju, o amendoim. Torrada apenas, a amêndoa, a avelã. Comprei à pazada, ao peso. Rebolaram amenos para dentro do saco castanho. Em casa mudei-os, todos para o frasco, um tubo cinzento baço, comprando a 13 euros, 3 iam para a unicef. Na ponta uma espécie de taça-tampa. Servi.
Amendoacajuavelaamendoim,amendoimavelacajuamendoa.
Uma amêndoa viva.
As asas largas, riscos em madeira, as antenas quietas, saltou sobre a avelã descascada, queria subir a taça.
Uma amêndoa viva.
Gregor? – eu perguntei
E a amêndoa nada, a subir a subir a subir.
Gregor?- perguntei de novo.
E nada.
Não seria.
Esmaguei a amêndoa à contraluz, entre a porcelana e o cartão. Quase sangue sobre o sal.
Traça.
Não comi mais.
Numa análise, tropeçamos sempre com o que não sabemos, não podemos saber, não há ninguém que saiba.
Não é preciso que seja uma análise, da psicanálise, basta que seja um debruçar-nos sobre um texto, uma obra, um poema.
Como escritor, como escritora, seria perfeito conseguir fazer isso de propósito, colocar o outro, o pequeno outro, qualquer um, no lugar desse confronto.
Querido Lacan, és o melhor escritor do mundo.
Raios partam.
Vem, vamos para aqui, a fingir que eu gosto de chocolate.
É logo ali, depois do cemitério. Desces, sabes, depois do cemitério, há uma que sobe, uma que vai em frente, uma que desce. Tu desces, desces, desces de novo, ja vais a tempo de subir. Depois sobes, sobes, sobes. Quando ficares com falta de ar e sem passeio, atravessa a rua, estás quase lá.
A porta está aberta, e por isso podes entrar e descer, descer, descer, descer, descer e é depois à esquerda mas isso vês logo, porque não há mais para onde ir.
A sala cheia.
Um homem já fala, fala, fala. A mulher a teu lado comenta tudo o que o homem diz.
o homem não é Deus, mas estamos aqui para o ouvir. ele sabe. fala, fala, fala.
E a mulher ao teu lado comenta. concorda com o corpo todo, e sacode-se como um pavão com frio. tosse sem pôr a mão na boca.
odeias pessoas, no fundo, odeias.
Cale-se senhora, e tape a boca quando tosse.
mas desceste tanto tanto tanto tanto tanto, que ficas calado, e o homem fala, fala, fala, fala, e esqueces a mulher que tosse e que conta em gritos sussurrados que vai para o alasca,
quero lá saber.
e depois o homem diz que leu, num sítio cujo nome não sabes escrever, que um anjo forjado a fogo, dura o tempo de uma canção. e isso é bonito. porque há tanta gente que nunca fez mais que cantar uma canção. e gente que nunca nem cantou uma canção, e afinal quanto dura uma canção, e quanto duramos sem que ninguém nos oiça, ninguém nos leia, ninguém nos pense, e depois lembras-te que agora somos todos, o tempo de uma canção e que talvez cantemos para senhoras reformadas, que comentam tudo e tossem sem pôr a mão na boca, e ainda assim, ainda assim, aqui, depois de descer, descer, descer, descer…
e o homem continua a falar, a falar, a falar, e a senhora a tossir, a tossir…
O E e o A estão transparentes.
o A teve cócegas na barriga, desmontou-se como um bolo desses que se chamavam pirâmide e tinham uma cereja no topo, uma franja de chantilly e eu nunca podia comer porque eram feitos com restos de outros bolos e deus nos livre da salmonela.
o E parece o senhor Doc, do regressar ao futuro. Ou uma sapatilha com rodas. Ou o sinal torto de um trovão. Esfarelou-se em movimento. o E.
o A. esfarelou-se quieto.
o E e o A estão transparentes.
os números, esses danados, estão como novos.
| mês | livro e autor |
1/1/18 | O tumulto das ondas- Mishima | |
1/1/18 | Canções mexicanas- Gonçalo M. Tavares | |
lindo | 1/1/18 | A primeira pessoa- Ali Smith |
1/1/18 | Homens imprudentemente poéticos- Walter Hugo Mãe | |
1/2/18 | Amor e outras histórias- André Santanna | |
Maravilhoso | 1/2/18 | Autobiografia do vermelho- Anne Carson excelente |
Perfeito | 2/1/18 | Um cavalo entra num bar- David Grossman |
1/2/18 | Distancia de resgate- Samanta Schwebelin | |
1/2/18 | Confissões de um assassino- Joseph Roth | |
1/2/18 | La nostalgia feliz- Amelie Nothomb | |
Clube de leitores Gonçalo | 1/2/18 | O mandarim- Eça de Queiroz |
1/2/18 | Requiem- Antonio Tabucchi | |
1/3/18 | Mrs Dalloway- Virginia Woolf (2x) | |
mt bom! | 3/1/18 | O primeiro homem mau- Miranda July |
1/3/18 | Aldeia Nova- Manuel da Fonseca | |
1/3/18 | O fogo e as cinzas- Manuel da Fonseca | |
1/3/18 | O sonho dos heróis- Bioy Casares | |
1/4/18 | Miniaturas- Andrea del Fuego | |
1/4/18 | O pendura- Jules Renard | |
1/4/18 | Um acontecimento na ponte de Owl Creek- Ambrose Pierce | |
clube leitura Gonçalo | 1/4/18 | Manifestos- Almada Negreiros |
1/4/18 | Flush- Virginia Woolf | |
1/4/18 | O primeiro amor- Ali Smith | |
1/5/18 | Diário sentimental do adultério- Filipa Melo | |
1/5/18 | Diário da queda- Michel Laub | |
clube Gonçalo | 1/5/18 | Loucura- Mário de Sá-Carneiro |
1/5/18 | Na memória dos rouxinóis- Filipa Martins | |
1/5/18 | A festa da insignificância- Milan Kundera | |
1/5/18 | Pureza- Jonathan Franzen | |
1/5/18 | O pequeno abismo- Raymond Chandler | |
Escrevedeira- entrevista | 1/5/18 | Opisanie Swiata- Verónica Stigger |
clube Gonçalo | 1/6/18 | Coração, cabeça e estômago- Camilo Castelo Branco |
1/6/18 | Vento sul- Vilma Areas | |
Lindo, lindo | 1/7/18 | Animais domésticos- Luana Schnaiderman |
1/7/18 | O homem comum- Philip Roth | |
1/7/18 | Eles não moram mais aqui- Ronaldo Cagiano | |
beleza pura | 1/7/18 | Bruno Schulz conduz um cavalo- Leda Cartum |
1/7/18 | O coro dos defuntos- António Tavares | |
1/7/18 | O luto de Elias Grou- João Tordo | |
mt bom | 1/9/18 | Um bailarino na batalha- Hélia Correia |
clássico | 1/9/18 | O primo Basílio- Eça de Queiroz |
Lindo lindo | 1/9/18 | Sonhos de Einstein- Alan Lightman |
1/9/18 | O Delfim- José Cardoso Pires | |
1/10/18 | O caso Sparsholt- Alan Hollinghurst (não terminei) | |
Fora do comum | 1/10/18 | O mestre-Ana Hatherley |
entrevista escrevedeira-mt bom | 1/11/18 | Antonio- Beatriz Bracher |
1/11/18 | O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo- Germano de Almeida | |
clube Gonçalo | 1/11/18 | Poesia- Sophia de Mello Breyner Andersen |
perfeito | 1/11/18 | O rei faz vénia e mata- Herta Müller excelente |
1/11/18 | Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha- Liudmila Petruchévskaia | |
o livro perfeito…maravilhoso | 1/12/18 | O amor dos homens avulsos- Victor Heringer- MARAVILHOSO |
12/1/18 | O falecido Mattia Pascal- Luigi Pirandello | |
12/1/18 | A vegetariana- Han Kang | |
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Queridos que sempre pedem recomendações, não deixem de ler :
Um cavalo entra num bar- Grossman
O amor dos homens avulsos- Heringer
Autobiografia do vermelho- Carson
O rei faz vénia e mata- Müller
Os sonhos de Einstein- Lightman
Os animais domésticos- Chnaiderman
Se em 2019 lerem estes 6 livros, já será um ano diferente!
O senhor Araújo. De seu uma pasta, um fato, uma lata de grão.
Uma filha, que escrevera na secretária, que era de madeira e não uma pessoa. A pessoa que era mãe da filha, vestia saias verdes.
Ele era, obviamente do sporting.
O amor ao clube, dava-lhe pele de galinha, e outras mudanças no corpo.
Depois fez-se velho, deu-se conta, deu, mas muito de vez em quando.
Tinha um sobrinho, ajudou o sobrinho, mas nunca se decidiu a gostar dele. Não soube se o sobrinho o apreciava ou não. Não soube se era apreciável. Era leal, apesar de nunca ter percebido que quando fez a filha, violou a mulher de saia verde.
Ela final até gostava dele. Ainda assim, aquilo tinha sido uma violação.
Araújo era do sporting, mas as suas escovas de dentes, nenhuma era verde. E tinha muitas. Para os dentes, para a língua. Para o pequeno almoço, para o almoço, para o jantar.
Deixa-nos a pensar o que é a vida e se temos uma boa higiene oral.
Reflexões sobre o Testamento do Sr. Napumoceno de Araújo, de Germano de Almeida.
O quarto é branco. Bem branco. Armários, janelas, paredes. Por isso a cama é tão escura, de uma madeira grossa, oriental, colada com força por algum alemão que come muita proteína. Sim quase ao contrário do que costuma ser. A mesa de noite é de madeira também, outra madeira, adocicada e com nome de fruto. Para ler, um candeeiro com cara de estetoscópio. A luz cai na página e cega um pouco, ela as vezes acha que são as palavras.
É difícil saber ao certo, sobre as palavras apareceram umas asas, de mosca. Pequenina e rápida, dessas de casa de banho, ela pensou. A mosquita, dessas de casa de banho, no quarto voando perto da luz. Vai-se queimar, talvez. Pousou na sombra enquanto ela lia. Voltou para a lâmpada quente quando as palavras sossegaram. Inquietou-se. Fugia à metáfora, a mosquita, e ela dormiu inquieta.
Os dois gatos, um branco e outro preto, estendidos ao sol, as portadas azuis abertas e os vizinhos chineses descarregando o camião branco com letras vermelhas, que eu não sabia o que significavam e pensei em copiar e perguntar depois, mas não tinha nada em que escrever, nem caneta, nem lápis, só uma afiadeira na carteira, guardava sempre alguma por lá, no bolso pequeno, uma afiadeira e as chaves, a da casa nova e a desta que ainda tinha porta-chaves: um quarto amarelo e uma cama azul, o quarto do Van Gogh que seria um bom nome para o gato preto que tinha uma orelha ratada, comida por um picotado qualquer, mas que acabara por se chamar Fifico porque era o nome que o meu filho gostava, Fifico, e a outra Fofuca, o gato preto, o gato branco, uma família de cinco, nove orelhas normais e uma a meias.
A rua caía para a direita, cheia de paralelipípedos desfocando, desfocando, e o centro da imagem escorria pelo ralo grosso da sarjeta oxidada, a mão fria, o calo magoado de segurar o lápis que transcrevia as linhas torcidas do edifício arte nova, subiu mansa até à orelha, furou o cabelo húmido e teso, preso num elástico tão forte que fazia a cabeça doer um pouco, os dedos procuraram a haste e o sangue voltou às pontas cansadas, às unhas moles, às peles rebeldes de manicure, a haste estava ali, hesitante, entre o rosto, o cabelo, a orelha e os dedos empurraram a rua de volta, para fora da sarjeta procurando os postos de luz que em breve se acenderia, ao céu escuro carregado de urgências de chuva e os paralelípipedos ficaram claros, recortados e perfeitos de arestas, e pude voltar a desenhar.