A doutora Stahlbaum vai já recebê-lo, e foi logo abrindo a porta. Sou o primeiro do dia. Não há atraso, o que consigo ver da sala é pura arrumação: revistas e jornais sobre a mesa, um poster enorme, negro, antigo com letras castanhas. Estende-me a mão e convida-me a sentar, Clara é tal qual me descreveu o meu tio, uma menina com essa beleza das nossas classes altas, a que o excesso de proteínas deu bons cabelos, boas peles, boas alturas. Mas atravessada por algo inesperado. À Clara Stahlbaum, dizia ele, fizeram-na num país de encantar, com pitadas de floresta negra.
Diga-me, você é o sobrinho do Drosslmeyer?
Sou, Ernest, muito gosto.
E o que o trás por cá?
Quebrei um dente.
Não, cá pela cidade.
Ah, o meu tio deixou-me a carpintaria.
Dente partido, então. Abre a garrafa de cerveja com a boca?
Ri-se com macieza.
Tentava descascar uma noz.
Olha-me, atenta. E eu que pensava que abrir caricas com a boca era idiota…A cadeira é antiga, como de barbeiro, mas adaptada. Os braços e a pia totalmente diferentes da velha estrutura metálica. Os dedos finos passeiam pela minha boca, as luvas cheiram a pó talco e são tão finas que sinto as impressões digitais sobre os veios do dente.