Onde deixaste o carro? Se tenho que perguntar, já sei a resposta. Pela janela não o vi. Mania das limpezas. Homem e carro, não dá para viver com eles, não dá para viver sem eles. Dar até dá. Belisquei o menos um, não adiante se não rodar a chave. Abre, fecha, tranca, destranca, cuidado para não esquecer de apagar a luz. Aquela comichão nas costas, sete velhas num mesmo edifício. Olho para todos os lados. Eu quero é saber quem bate com a porta do elevador. Eu quero é saber quem não tranca a garagem. Eu quero é… Melhor deixar a luz apagada mesmo. Não, lixem-se! O que dirão as velhas disto? A garagem está repleta de formigas. Sobem desde o menos dois numa progressão desconexa, enlouqueceram com os fumos, de certeza. Não dos carros, nem dos homens, o das velhas que querem é saber. Impossível não rir. Apago a luz. No escuro posso rir mais. Ai, ia caindo, caramba. Puxo da luz do celular, a sola da bota dobrou-se. Raios, é por me rir e maldizer as velhas, ou Deus castiga ou é karma. Olho à volta, a vizinha do oitavo direito bordeou o lugar. A fração profunda, o corte último, o grito imponente da placa dentária! Escavou em volta do branco, colocou enxofre. Pois. No fim das contas, carros, homem, e coro de velhas é coisa demoníaca mesmo.