Ainda assim o ano vinha estranho. Abriram lugares de estacionamento, escavados aos passeios. Uma ordem aparente. O carril de bicicletas cheio de pedrinhas miúdas e flores secas e peludas que davam alergias. Pelo chão ainda se podiam encontrar bolotas. Há anos que não via papoilas. Tinha a sensação que este ano haveria. E de sobra. Aqui e além campainhas amarelas, as que em pequenos mordíamos de gostos azedos e transgressão. Este ano já vendem flores, comestíveis, biológicas. Que bom, sempre são mais coloridas. Ainda assim, o ano vinha estranho. Esvaziava-se o céu de águas cheias, e os ventos que vinham eram de raivas e cansaços. Por toda a parte azulejos. Até sabão de cheiro a erva doce, canela, licor de doce de ovo. Como os gelados. Mas sabão. Enxurradas de línguas alegres subiam e desciam a rua. Loiros, morenos, empinocados ou da decathlon. O turismo nem sempre é democrático. No caso, não sabemos mais o que seja democracia. Ainda assim o ano vinha estranho. De tanto, que era o mesmo, fiquei de vontades suspensas. No meu telefone um gato preto nadava no mar. Deixei-me ficar a observar.